Como é calculado o preço de capa de um livro? Quanto vale um livro? Quais os serviços que devemos incluir para calcular o preço de venda de um livro? O escritor ganha quanto? A editora e a gráfica ganham quanto? E ainda precisamos acrescentar o valor do frete até a casa do escritor e/ou do leitor.
Livros raros, clássicos, da antiguidade, tem valor inestimável. Impossível calcular quanto vale um livro com séculos e séculos de existência, exposto em museus ou em câmaras especiais, em bibliotecas espalhadas pelo mundo. Livros que não devem ser manuseados ou com inúmeras regras de proteção para não danificar o que ainda resta… As preciosidades devem ser admiradas apenas com olhos famintos, de conhecimento, de curiosidade da revelação de mistérios ocultos por longos anos.
Eu, pelo simples fato de saber que um livro ou um pergaminho, ou seja, o que for que contenha o conhecimento de civilizações passadas, foi achado em alguma escavação arqueológica ou que se encontra em museus ou institutos científicos e literários, de universidades renomadas, sinto arrepios de satisfação e contentamento. Basta saber que existem e através da imprensa, inteirar-me do seu conteúdo.
Desde que fiz da literatura a minha existência, tenho procurado respostas para o preço dos livros nas livrarias do país. Como uma editora brasileira negocia títulos estrangeiros?
Os direitos para traduzir, editar, imprimir e espalhar por livrarias com valores inferiores aos praticados na literatura nacional? Alguns dizem que são best-sellers e a venda é garantida, que a impressão é em larga escala e só isso já reduz o custo. Despesas com lançamento, divulgação, distribuição e por aí segue a lista interminável de despesas… As livrarias não compram, recebem consignado com valor de venda/capa + percentual, quase sempre 40% a 60% embutido. Soube através da imprensa que livrarias vendem espaços nas suas lojas, vitrines, prateleiras centrais e com ótima visualização custam tanto... É o mercado capitalista.
Não sou contra o capitalismo ou vender livros para que poetas e demais escritores sejam dignamente pagos pelo seu talento e criatividade. Na minha modesta opinião, o assunto é cultural e muito antigo, desde o descobrimento, a colonização do nosso país. Os primeiros povos, além dos nativos, os índios e verdadeiros donos da terra brasileira, eram europeus, como portugueses, espanhóis, holandeses, franceses, etc. Prevaleceu a cultura europeia… o que é de “fora” é melhor. Poucos lutavam para garantir o nosso espaço entre o nosso povo, dentro do nosso país. Minha admiração a José de Alencar, que “representou um dos mais sinceros esforços patrióticos em povoar o Brasil com conhecimento e cultura próprios, em construir novos caminhos para a literatura no país.”
“Uma andorinha só não faz verão”… Se existisse um espírito de mudança e união, desde a época de José de Alencar, por exemplo, nós teríamos hoje uma melhor atuação da cultura brasileira. E o que é pior… o próprio povo brasileiro, independente de classe social, repudia ou simplesmente, não “se importa” com a literatura nacional. Mesma situação vive o cinema brasileiro. É uma questão cultural.
Retomando o assunto: “quanto vale um livro?”, discorrendo sobre as editoras média e pequenas, que não são entidades assistencialistas e sim empresas e o objetivo é ganhar dinheiro. Essas costumam caçar escritores pelas redes sociais, com propostas de edição de livros totalmente custeadas pelo escritor. Alguns deixam-se iludir pela proposta, achando que tem em mãos um best-seller (talvez seja mesmo), e sequer se dão conta que a editora precisa pagar suas contas e para tanto necessita cobrar pelo serviço oferecido.
Não sou contra o escritor pagar pela edição do livro. Se existir condições financeiras para isso, deverá fazer e trabalhar muito para divulgar o seu trabalho. Valorizando os seus escritos, seu talento e criatividade. Se pensar em ganhar dinheiro para recuperar o investimento, então desista, melhor não gastar o seu dinheiro. Não é assim que funciona, poucos conseguem chegar lá. E para isso, levaram anos escrevendo e escrevendo. Tem o outro lado, que é muito melhor do que o vil metal, a admiração de pessoas estranhas, que se encontraram lendo seu livro ou poesias escritas com a força da alma. Vale por muitos aplausos… Vivi um momento de extrema euforia recentemente. Postei uma poesia que atingiu centenas de pessoas, e diante de tanta admiração e os comentários recebidos, de pessoas que nunca vi, e então, fechando meus olhos imaginei que estava na Arena do Grêmio, totalmente lotada de torcedores aplaudindo o seu time… que os aplausos e os gritos eram para a minha linda poesia. Um momento íntimo. Inesquecível!
Voltando aos livros e ao mercado literário… Tenho ocupado meu tempo com muitos orçamentos, pesquisando preços e serviços que atendam às necessidades dos autores.
A cada semana, uma nova surpresa. Encontrei preços altos, impraticáveis, médios e bons preços. E a cada orçamento, levando-se em conta o material e o serviço, que envolve a impressão de um livro, é possível, baratear ou encarecer o produto. Necessário se faz disponibilizar “tempo” para comparar propostas e encontrar em meio ao alto número de gráficas existentes no país, aquela que oferece as melhores condições. Não só o melhor preço, mas o melhor serviço, atendimento, organização, para atingir o objetivo de imprimir não só um livro, mas o sonho de um autor.
Uma surpresa desagradável ocupou minha mente durante duas semanas. O frete dos Correios, via PAC e SEDEX. Quando solicito orçamento para uma gráfica, peço para que seja incluído o frete nas duas modalidades acima mencionadas. E, em muitas das gráficas, os valores superam o da impressão. Divergem demasiado umas das outras. Saí, então, em busca da verdade escondida no frete… Reuni informações disponíveis e dados de embalagens, peso, localidades, onde tem entrega disso, daquilo e o período em trânsito, até o destino da encomenda. Dediquei-me aos cálculos e muitos cálculos depois, a surpresa… algumas gráficas cobram ágio de + de 100% sobre os valores praticados pela ECT no Brasil. Questionei uma empresa gráfica, que havia me passado preços absurdos e fui informada que “como era serviço para terceiros, havia impostos a pagar”. Duvidei da desculpa e procurei a Agência Central dos Correios aqui na capital dos gaúchos… e constatei que eu estava fazendo cálculos corretos, usei e abusei do atendente, esclarecendo todas as minhas dúvidas. A desculpa da tal gráfica tratava-se de uma mentira. Uma grande mentira que encarece o valor final do livro. E mais, o orçamento deles nem apresentava o melhor preço de impressão e foi descartado.
Estamos no Brasil e, lamentavelmente, a ideia de “sempre levar vantagem” nunca vai desaparecer, está tão impregnada em nosso modo de vida, que é passada de pai para filho, para as gerações futuras e para sempre.
Porém, não apenas serviços de terceiros atrapalham o valor de um livro, o próprio autor, muitas vezes, desvaloriza o seu trabalho. Quando não acredita naquilo que escreve, ou só pensa em faturar, vender o livro e salvar uns trocados do investimento.
Lamento a ausência de autoestima, de respeito à literatura, quando me deparo com e-books, que são livros, livros digitais… sendo vendidos a R$ 1,99. Como as lojas que surgiram no país, que vendiam quinquilharias vindas do Paraguai. Hoje não é mais do Paraguai, elas são “importadas” da China.
A imprensa cultural escreve frequentemente sobre pesquisas relacionadas aos livros digitais, que o público (ínfimo) brasileiro ainda não se encontrou com os e-books e que os livros de papel continuam vendendo muito mais. Vai ver que ninguém leva a sério um e-book, achando que tem só parte do livro ou é de péssima qualidade por ser tão barato?
A maioria pode ser baixado gratuitamente na maior plataforma da internet.
Eu só sei que livro é uma preciosidade. Além de guardar os sonhos dos poetas e escritores, delicadamente traduzidos em palavras ou em versos. Livros apaixonam e ensinam. Livros podem mudar a vida das pessoas, como dizia o querido poeta Mario Quintana. E eu desejo, que todos encontrem no meio do caminho um livro, e não uma pedra como escreveu outro poeta encantador, Carlos Drummond de Andrade.
Nell Morato
18/11/2017
Comentarios