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  • Nell Morato

LITERATURA COMO ARTE, OU APENAS… LIVROS?

Atualizado: 16 de abr. de 2020

Eu ainda fico perambulando por pensamentos utópicos para mudar o “mundo”. Como quando era criança e sonhava em fazer acontecer grandes transformações. E a vivência no dia a dia se encarrega de alterar os acontecimentos e nunca chegamos, nem perto, do que sonhamos na infância. Os sonhos vão se esfacelando e outros surgem no lugar, é a vida se adaptando às circunstâncias.


Desde que mergulhei na literatura, literalmente falando, estou alimentando sonhos. E sempre me pergunto: o que seria do escritor se ele não sonhasse? Não sei a resposta, mas acredito que murcharia como uma flor não regada. Além dos sonhos de enredos apaixonantes, personagens fortes e ousados, tenho sonhado com a mudança no cenário literário. Os meus personagens estão aguardando na quietude das minhas memórias. Às vezes, um ou outro rebela-se e quer amotinar-se para ganhar minhas palavras. Então, dedico-lhe algumas páginas e consigo acalmar a ansiedade para se ver nascer da criação. E, assim, posso dedicar tempo e atenção à literatura brasileira.


Leio e observo o cenário literário através de jornais, revistas e a internet. E confesso que fico confusa, sem saber para que lado pender, como se estivesse numa encruzilhada. De um lado, temos os renomados escritores brasileiros, grandes editoras, feiras e encontros cultuados pelo público, intelectuais e amplamente divulgado pela imprensa… De outro lado, escritores que se agrupam na internet, que sonham em participar da “elite literária”; alguns, que estão satisfeitos com o que já possuem; outros, estão sempre reclamando, de que no Brasil não temos leitores, que as editoras não querem saber dos autores nacionais, que as gráficas cobram excessivamente para imprimir seus livros e por aí segue uma interminável lista de reclamações.


Também passa, diante de meus olhos, textos mal escritos, com absurdos erros ortográficos e a língua portuguesa ignorada. Na comemoração do Dia Nacional do Escritor, li algumas mensagens de autores parabenizando os seus colegas, e senti vergonha. Dos primários erros da nossa grafia. Não custa nada ler e reler várias vezes, conferir os termos num dicionário atualizado. No Concurso de Textos Anônimos, alguns jurados me pediram para revisar os textos, antes de diagramar a Coletânea. E aí eu pergunto: como são enviados textos para um concurso com erros ortográficos? Era só o concurso do FLAL… acredito que alguns pensaram isso. Da mesma forma, a situação constrangedora criada por uma autora que pretendia abandonar o festival, mas sua editora era uma das patrocinadoras. Se faz necessário o comprometimento com a literatura, com a língua portuguesa, com seus colegas, com a coisa pública. Nenhuma sociedade se mantém sem disciplina e regras, por menor que seja.


Temos as falsas notícias do mercado literário. Há de se comprovar a fonte antes de postar ou compartilhar nas redes sociais. Recentemente, foi publicado um artigo no jornal Folha de S. Paulo e amplamente divulgado nas redes sociais, de que as editoras estavam contratando consultores como “leitores sensíveis” para avaliar problemas de ordem preconceituosa nos textos a serem editados. Dizem que no Brasil, diferentemente dos EUA, isto não está ocorrendo. Porém, alguns autores já utilizam leitores de confiança, os ‘betas”, para avaliar seus escritos.


No feed do Facebook, uma pergunta: quais são os requisitos para ser um escritor? E fiquei acompanhando os comentários, que se apresentaram de forma variada, inclusive eu, usando uma citação de José Saramago: “Somos todos escritores. Só que uns escrevem e outros não!” Um comentário que chamou minha atenção: falava que o autor deveria escrever para seus leitores, o que eles quisessem, mais ou menos assim. Será mesmo? Escrever por encomenda… ou sobre o tema que está na moda? Escrever o que os leitores gostariam de ler. E como saber? Não será por isso que os leitores perderam o interesse? E aí teremos apenas livros, que serão lidos ou não, dependendo sempre da família ou dos amigos para consumir. Ou então, que serão disponibilizados para leitura gratuita ou venda a meros R$ 1,99 na Amazon. Livros e mais livros, apenas livros. E não é bom? Claro que sim. Nada mais do que isso.


E a literatura como arte? O talento criativo que emana do íntimo do escritor. Que arrebata levando-nos a ler sem parar enquanto as páginas são devoradas uma a uma por olhos famintos de uma desconhecida emoção. Não é mais uma narrativa, é uma obra-prima. É pura criatividade livre, sem dever nada a ninguém. É a arte da palavra… ou são as palavras escritas com arte. Só assim, para surgir, de tempos em tempos, um best-seller.


Ou alguém acredita que no mundo globalizado da alta tecnologia, que praticamente se autoevolui incessantemente, os leitores continuarão com a preferência literária?


Sugeri num artigo uma campanha de “esquecer” livros em locais públicos. Nada a ver com a campanha do Dia Nacional do Escritor, que é fantástica, mas dura apenas durante o dia 25 de julho. O que propus foi uma campanha a longo prazo, para conquistarmos leitores para o futuro. Não leitores para esse ou aquele título ou autor. Leitores para a literatura brasileira, com pais ensinando seus filhos e doravante leitores. Quantos autores participaram da campanha? Um, dois, dez. Não sei. Não estou computando se aconteceu, se ficou apenas na vontade, ou se “esqueceram” da minha sugestão. Eu não vou desistir. Sei que é um trabalho lento e os resultados serão ínfimos. E alguma ação solidária é fácil no Brasil?


Nell Morato

31/07/2017

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